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domingo, 2 de agosto de 2015

Porque ele merece

É uma bênção muito grande, neste dia Dia dos Pais, poder falar do meu pai. Um homem de vida sofrida que reverteu a sua história com tanta sabedoria e firmeza. Nasceu entremeio a conflitos políticos como a Revolução Constitucionalista e a Revolta Comunista.

Meu avô paterno era tropeiro de profissão. Para quem não sabe o significado: "Os tropeiros eram condutores de tropas de cavalo ou mulas, que atravessavam extensas áreas transportando gado e mercadorias". Meu pai teve um pai muito severo e rude, que fez sofrer muito a esposa com os filhos. 

Não aguentando a situação, muito jovem ainda, meu pai convidou minha avó a partirem. E eles começaram uma nova vida, mãe e filhos. Viveram de favores, outras vezes, moraram na confiança de pagar depois; passaram muitas necessidades... A vida continuava a ser muito dura com eles. Mas superavam as dificuldades, dia após dia. Meu pai, tão jovem, se sujeitou a todo tipo de trabalho para sobreviver, passou por necessidades básicas. E isso só o fortaleceu enquanto pessoa. Tornou-se um homem digno e de índole admirável. Fez muitas amizades, relacionou-se com pessoas cultas e influentes, que o ajudaram em muitos aspectos.

Tornou-se funcionário devidamente registrado, e foi trabalhador de um único emprego até a sua aposentadoria. Minha mãe gostava de contar e tinha orgulho em dizer: "seu pai nunca faltou, um dia sequer, no trabalho". Exemplo para nós! Mas, mesmo assim, estabilizado em um emprego, a vida ainda foi de muita luta. Se, por acaso, perdesse o trem de volta para casa, tinha que passar a noite na rua, porque não existia outra forma de ir embora. Agora, imagina, minha mãe sozinha com os filhos numa "taperinha", sem comunicação nenhuma com o marido que havia perdido a condução para casa? Se, hoje, até as crianças têm telefone, volte um pouco no tempo e veja o quanto tudo foi difícil e sofrido... 

Sacrificou-se, por algum tempo, num segundo turno de trabalho, para dar conta de manter a família. Mas, ótimo funcionário,  foi ganhando admiração e respeito das pessoas, galgando na vida.

A situação sofrida não fez do meu pai um homem rude como meu avô. Muito pelo contrário, meu pai proveu muito bem as necessidades de casa. De alimentos a livros ele não nos deixava faltar. Chegava em casa com coleções literárias nas mãos, gostava de ver a estante cheia de livros!  Não só livros, mas até coleção de Clássicos da música erudita como Beethoven, Mozart, Chopin. Comprava para pagar em muitas parcelas. Pensávamos o quanto ele tinha pago caro, mas, para ele era investimento. Estava dizendo-nos, com isso: "estudem, para ter uma vida melhor!". Ah, hoje, como pedagoga, entendo... Quando tínhamos alguma dúvida e perguntávamos, ele dizia: "vá procurar nos livros". Não dava respostas prontas, indicava o caminho para descobrirmos sozinhos. Sabedoria!

Alguns de vocês já devem ter lido "Em memória dela", onde eu conto que minha mãe nunca frequentou a escola. Pois bem, nem por isso ela deixou de ganhar do meu pai uma coleção de livros inteirinha só para ela, exatamente esta ao lado.

Dar de presente uma coleção de livros para quem não sabe ler nos parece contraditório, não é mesmo? Aqui entra a didática de Paulo Freire. Meu pai agiu corretíssimo dando uma enciclopédia de culinária à sua esposa iletrada, que cozinhava como ninguém. Ela deve ter feito algumas receitas só de olhar as imagens.

Atribuo o meu gosto pela leitura, escrita e preferência musical eclética, a esse grande incentivo do meu pai. Eu achava lindas aquelas coleções, que mal entendia, quando folheava. Mas nunca nos proibiram de mexer, com medo de estragar. Não! Ficava tudo muito acessível para encantamento dos meus olhos. Melhor herança para os filhos: amor e livros!

Poderia escrever páginas, e páginas, "Porque ele merece".

Feliz dia dos Pais!

5 comentários:

  1. Que legal Marilí, falar do seu Pai no blog, parabéns, Beijos!!!

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  2. Obrigada Priscilla! Sim, o Blog é um veículo para exaltar esse bem maior da sociedade chamado FAMÍLIA! Amo muito! Beijos amiga!

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  3. Ah que bom que você veio ler meu amor! Obrigada por deixar o recadinho, porque se não é através dos comentários, eu nunca sei quem leu as publicações. Beijos querida!

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  4. Neste domingo, Dia dos Pais, eu levei esta mensagem para meu pai e ele disse assim: "Ficou bom! Se for escrever um livro, já tem uma parte pronta." Olha que fofo!!! <3 :)

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